Este segundo número do Boletim Persiana Indiscreta traz um texto de Pierre-Gilles Guéguen (O íntimo, o êxtimo, o discurso analítico), que sem dúvida vai direto ao ponto do tema da nossa Jornada. O autor considera inicialmente o íntimo literário, a partir do pionerismo de Rousseau, como um desafio de convocar a verdade – que andaria junto com a vontade de dizer o que o pudor e os semblantes exigem manter escondido – para fazer o Outro calar. A referência ao íntimo ressoa no registro do uso da verdade; mas no final das contas, é de um gozo que se trata. Já na experiência analítica, a verdade não se distingue da ficção, é irmã do gozo e só se expressa por um meio dizer.
Em relação ao dispositivo do passe trata-se de um novo valor da intimidade – a do sujeito do inconsciente. Portanto, se distingue da intimidade literária ou da confissão religiosa, porque se trata de um saber novo, uma nova versão da relação de um sujeito com o semblante – é o momento em que a análise se prolonga pela comunicação dos seus resultados. Guéguen avança para distinguir o êxtimo e o íntimo. Enquanto o íntimo guarda relação com o semblante que deve ser manejado, a extimidade está mais além dos semblantes e concerne, com efeito, à causa do gozo.
Na sequencia, nossa colega da EOL Ivana Bristiel (no texto Te dou minha intimidade), indaga sobre o estatuto da intimidade hoje para logo afirmar que atualmente assistimos a uma nova transformação da intimidade – mais que uma fratura, nos deparamos com a anulação da intimidade. Há um empuxo a ver tudo, dizer tudo – o gozo está à mostra. Em contrapartida, a psicanálise deve trabalhar como o lugar íntimo de encontro com o próprio gozo, via transferência.
Ah, sim!… temos ainda direto de Paris, Nayahra Reis (O íntimo e seus limites), inaugurando a rubrica: Vidrados no Olhar, com a resenha sobre o filme americano The Circle, que nos mostra os limites do íntimo e questiona seu valor para o sujeito da transparência e a possibilidade de tudo ver e tudo saber sobre todos a todo momento. Se trata de uma crítica às novas tecnologias que impõem cada vez mais semblantes de transparência para ocultar o opaco de si mesmo, que determina o modo singular de gozar.
Que vocês desfrutem dos textos e das informações que tornamos publicos nesta Persiana Indiscreta – o boletim No 2 das 23as Jornadas da EBP-Bahia.