
Editorial
Pablo Sauce – Diretor Geral da EBP-BA Membro da EBP e da AMP
No primeiro texto desta edição do boletim Persiana Indiscreta, O íntimo, o êxtimo, o psicanalista, traduzido por Nora Gonçalves (AME-EBP/AMP), Marie-José Asnoun (AME-AMP/ECF e da NLS), parte da intimidade para explorar a potência de sua falha, a extimidade, lugar do qual se servirá o analista para conduzir a cura em sua função de intimar, de fazer saber. Se, por uma parte, “Via seu íntimo, o sujeito tenta convencer o Outro que sua queixa é autêntica e que deve ser mantida intocada”; por outra, “a dimensão êxtima se inscreve logo que o sujeito pode restringir sua queixa a um sintoma analítico.” Se de um lado, “o intimo empurra a segregação”; do outro “o êxtimo leva a aposta da dessegregação do particular de cada um.”
O ÍNTIMO, O ÊXTIMO, O DISCURSO ANALÍTICO
Marie-José Asnoun – AME-AMP/École de la Cause Freudienne e da New Lacanian School. Ensinante da Seção clínica Paris- Ile-de-France. DESS de psicologia Clínica-Paris.
Em psicanálise, a vida íntima é, talvez, um tempo do sujeito, de um lado, quando da condução de seu tratamento, de outro, ao efetuar o passe, quando da transmissão aos passadores, em que ressurge o sentido etimológico de intimar, quer dizer, fazer conhecer, fazer saber. Antes disso, é difícil negligenciar que o íntimo, em seu valor singular, pode virar supereu e intimar ao sujeito a ordem de gozar. Relatarei a posição de um sujeito cujo fantasma – se fazer trair – dá certa conduta de vida, ao ponto de se intimar uma impossível colaboração com o Outro que figura como traidor. Sua solução neurótica será a de se calar para não trair, o que revela o gozo contido nessa posição e implica uma traição quanto ao desconhecimento de seu desejo.
VIDRADOS NO OLHAR: O FIM DA INTIMIDADE? RESENHA DE AS FRONTEIRAS DO ÍNTIMO. ÍNTIMO EXPOSTO, ÍNTIMO EXTORQUIDO, DE GÉRARD WAJCMAN
Julia Solano – Associada ao IPB-BA
Gerard Wajcman, em seu trabalho “As fronteiras do íntimo”, apresenta uma interessante visão sobre uma suposta ameaça à intimidade à qual estaríamos submetidos na contemporaneidade e suas consequências à prática psicanalítica. Ele nos relembra que o conceito de intimidade data do Renascimento e que consiste na possibilidade de o sujeito poder ocultar-se do olhar do Outro. Trata-se aí do sujeito cartesiano, que pode esconder-se do olhar de Deus que até então era onisciente e onipresente, para pensar sobre o mundo à sua volta, bem como sobre si mesmo. O sujeito só pode pensar, na sua intimidade, ou seja, quando não é olhado pelo Outro.
ENTRE(A)VISTA: MARIE-HÉLÈNE BROUSSE ENTREVISTA GERÁRD WAJCMAN
Rogerio Barros – Associado do IPB-BA
Ao propormos a rubrica Entre(a)vista, partimos do pressuposto de que há, entre o olho e aquilo que podemos ver, (a)lgo que nos captura, estabelecendo a fronteira no campo escópico. A cena que focamos revela a nossa própria captura a partir do que nos é mais íntimo e estranho a uma só vez: o objeto a, que nos permite estabelecer a relação com a realidade.
ACONTECEU NA EBP-BA: LEITURAS SEMINAIS
Ivone Maia – Associada do IPB-BA
Inicio com a lembrança de uma brincadeira que se chamava telefone sem fio, expressão que não produz atualmente o mesmo efeito, uma vez que quase não existem mais fios nos telefones. Tratava-se de passar adiante uma mensagem recebida, com os efeitos de chiste das distorções que se produziam no percurso. Como num telefone sem fio, trago as reverberações do Seminário de Formação Permanente, realizado no dia 23 de maio do corrente ano. Nessa noite, foram apresentados os cinco primeiros capítulos do curso de Jacques-Alain Miller, Extimidade, por Nora Gonçalves; e o texto Transformações da intimidade, de Pablo Russo, por Ethel Poll, numa mesa coordenada por Marcela Antelo.