Loucuras,…
A loucura no plural confinada por um sinal discreto, crônicas por vir. Entre o S1 e S2 do nosso título a vírgula é um perturbador do sentido. Mais do que escandir o tempo da locução, ela dilata o tempo da apreensão do que está em jogo nas loucuras e crônicas com que o trabalho analítico se perfaz. A vírgula que intervém entre as loucuras e as crônicas é um sinal equívoco; é ao mesmo tempo ponte e obstrução.
Se na clínica psiquiátrica o uso das categorias radicaliza a distinção entre o normal e o patológico, na clínica psicanalítica o acento está na equivocação. A psicanálise aprendeu com a língua dos loucos e nossa clínica tira consequências disto.
Por um lado, a estruturação do sujeito e seu advento estão pautados pelo predomínio do Nome-do-Pai sem referência ao imaginário (corpo, gozo); por outro, com a clínica borromeana, verificamos uma estreita conexão entre o significante e gozo na constituição do falasser. A loucura ensina que o Pai não é o único ordenador.
Assim, há casos onde a forma significante está conservada (a palavra e a frase são “normais”; não ocorre uma decomposição clássica do significante), mas a significação carrega uma intenção indizível, não necessariamente através de um delírio – o que caracterizaria a psicose extraordinária. São casos onde a modalização sintomática vai contra a radicalização: temos psicóticos mais modestos, mais discretos em sua expressão e que se apresentam sob uma normatividade marcante. A norma é a forma que o sujeito encontra de se relacionar com o Outro e, quanto maior é o seu apelo, maiores são as possibilidades de se encontrar psicoses ordinárias.
Já não se trata das grandes exceções às normas, dos loucos grandiloquentes e sim daqueles sujeitos que fazem um uso do significante de forma corrente, mas inseridos nos transtornos de linguagem, não muito evidentes – que são considerados de uma forma mais geral sem a radicalidade de um modo único de enodamento do RSI. Estamos na clínica das psicoses ordinárias na qual o contraste entre um antes normal e um depois patológico não é tão evidente.
, …crônicas.
A crônica como texto literário, se utiliza de uma linguagem simples, direta, admite o toque pessoal e apresenta referências de espaço e tempo. É um significante que se presta à abordagem do nosso tema porque implica em considerar a temporalidade e também a estrutura, o que contempla a abordagem das psicoses, seja em contraponto à clínica psiquiátrica, seja no cotejamento da primeira e segunda clínica de Lacan, considerando-se em ambas o contraponto com a clínica das neuroses. Por meio das crônicas podemos tomar as opiniões de vários colegas para saber sobre o tema abordado, sem necessariamente chegar a um ponto final e sempre a mais uma vírgula.
E disso se trata! Se na antiguidade as crônicas eram sobre fatos admiráveis dos reis e imperadores, na contemporaneidade vamos tratar das crônicas sobre os loucos de toda ordem, que nos interessam se tomados sob a lógica do discurso analítico, isto é, sob transferência.
Queremos discutir com vocês e, assim, esperamos as crônicas sobre este louco tema anunciado!