Ana Martha Wilson Maia (Membro EBP-Rio/AMP)
« Lalengua tiene una dimensión diacrónica y tiene una dimensión ‘individual’.
Ese concepto que Lacan forja vuelve a incluir la invención de
cada uno como aporte a la comunidad que habita lalengua ».
Jacques-Alain Miller, La fuga del sentido, p.147.
Neste seu curso de orientação lacaniana, Miller organiza termos que Lacan propõe colocando a palavra, a linguagem e a letra do lado esquerdo de uma tabela e a apalavra, lalíngua e lituraterra, do lado direito. Os três primeiros termos estão no título de dois textos dos Escritos dos anos 50: « Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise » e « A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud ». Os outros termos são neologismos que Miller recolhe do último ou penúltimo Lacan, enfatizando que reorientam seu ensino nos anos 70, ou seja, é um novo giro em torno de coordenadas fundamentais.
Se a linguagem é uma estrutura definida por Lacan no Seminário 20 como « uma elaboração de saber sobre lalíngua », lalíngua é « hecha de aluviones que se acumulan de los malentendidos de cada uno y de las creaciones lenguajeras de cada uno » (p.147). Como uma massa sonora que traumatiza o corpo, deixando nele uma marca de gozo, lalíngua não serve para comunicar, para fazer laço com o Outro. Assim, a partir de lalíngua, a palavra perde seu lugar para a apalavra, em que não há diálogo, não há comunicação, não há Outro, mas « há autismo » (p.150). Isso fala, isso goza, num uso rápido do termo autismo Miller chama a apalavra de autista. No contexto do inconsciente estruturado como uma linguagem, a verdade fala. No de lalíngua, é o gozo que fala.
Disso decorre um deslocamento da definição de linguagem como estrutura para linguagem como um aparelho de gozo e uma mudança no lugar da interpretação na experiência analítica. « Una estructura se descifra, se construye » (p.155), possui a finalidade de conhecimento da realidade, enquanto que a função do aparelho está relacionada ao gozo. « Desalojamos el infinito de la interpretación » (p.156), enfatiza Miller, porque quando ela visa o sentido, não produz limite, relança, infinitiza. Na direção contrária ao princípio do prazer, o giro de Lacan promove assim a interpretação como uma formalização da apalavra que suporta o real como impossível, promovendo uma redução do isso quer gozar para isso não quer dizer nada.