ARGUMENTO
OUTUBRO AZUL/VERMELHO 25/26
É Tempo de Interpretar! Na 24ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Bahia.
Tendo no horizonte “A Interpretação dos Sonhos”, texto prínceps de Sigmund Freud, atualizaremos o tema interpretação acompanhando o percurso do manejo da interpretação no ensino de Lacan, até desembocar em enunciações extraídas do Seminário XXIV, “O insabido que sabe de um equívoco é o amor”, na tentativa de introduzir na clínica psicanalítica, alguma coisa que vai mais além do inconsciente, ou seja, indicar que é o Um que sabe e não mais o Sujeito Suposto Saber.
Ao associar tempo e interpretação a Seção Bahia em seu programa seguiu Lacan que recorreu ao “Ser e Tempo” de Heidegger para verificar que as manobras da transferência implicam um processo em que se dá tempo ao Ser, não sem alertar que não há outro ser que o do dizer. Indica assim, a dimensão de algo articulado, porém inarticulável, a dimensão de algo não subjetivado.
Somos, então, conduzidos ao Kairós, Deus do tempo oportuno, ao tempo do acontecimento. É o que evidenciamos em “flashes” que se vislumbram no “Intemporal”, esse que nunca tem tempo nem nunca terá, mas contingencialmente nos traz o novo através da escrita dos poetas, que se aventuram a expor seu gozo.
Nessa via, Lacan repensa a interpretação com novos traços. Se ele parte da afirmação de que a interpretação é o próprio inconsciente, tem o silêncio do analista como seu correlato, para não permitir ao inconsciente gozar do significante. Assim segue, até poder apontar para homogeneidade entre a interpretação e a resposta do real, constituída pelo sintoma, tomado aqui como uma escrita que goza de si mesma.
Essa outra dimensão da interpretação, seu avesso, deve consistir em cernir o significante primordial, Há Um, antes de ser articulado na formação do inconsciente e dessa forma obter sentido.
É nesse ponto que podemos cernir o declínio da interpretação, tão promulgado? Se uma interpretação deve “fazer ondas” (Lacan, 1976), ter ressonâncias, deverá ela ir mais além do querer dizer, ao abolir o intervalo do dito e do dizer? Talvez isso se revele na palavra, poata. O analista deve ser poata. Faz ato.
Nesse sentido, interrogamos na direção de localizar onde estamos na prática interpretativa, o que nos coloca uma problemática renovada da interpretação em Lacan.
Para nos ajudar a elucidar essa questão e mais ainda, convidamos para nossa Jornada Miquel Bassols (AME da ECF/AMP) que vem nos brindar com duas conferências intituladas “A interpretação e sua obscura autoridade” e “Kairós, o momento oportuno”. Seguindo nessa mesma perspectiva teremos também como convidada especial Vitória Horne Reinoso que fará seu testemunho de Passe, o qual será comentado por Miquel Bassols.
É sob esse guarda-chuva ao avesso que vamos nos abrigar no outubro Azul/Vermelho. Esperamos a todos rumo a um significante novo, sem sentido, mas que nos interpreta a cada acontecimento.